Outro dia, após a Santa Missa, o padre avisou que Jesus Eucarístico seria exposto para adoração. Fiquei observando o acólito e a religiosa que preparavam o altar. Eles retiraram as velas, o Missal, o crucifixo e trouxeram uma toalha branca, sobre a qual colocaram o trono e o ostensório. Eles fizeram tudo com a imensa segurança de quem já fez aquilo incontáveis vezes, mas não foi isso que chamou a minha atenção, e sim o absoluto cuidado em cada passo, em cada mínima etapa. Ao colocar a toalha, a religiosa agiu com tanta lentidão que parecia estar fazendo um curativo na pele ferida de uma criança. Quando ela enfim depositou a toalha sobre o altar, abaixou o corpo como se procurasse um ângulo em que pudesse ver melhor se ela estava exatamente no centro. Deve ter notado alguma imperfeição, porque puxou um pouquinho para um canto, depois mais um tantinho para o outro e a cada pequena alteração passava a mão sobre a toalha com a ternura de quem afaga um bebê. Isso se repetiu na hora de posicionar o trono e já havia acontecido com cada objeto que foi retirado do altar. Eu observava e não via outra coisa que não amor pela Sua Majestade, pelo Senhor que ocuparia em instantes aquele ostensório, mas que ocupa cada espaço nos corações daquela religiosa e daquele acólito. A cena dos dois arrumando o altar me fez imaginar Maria e as outras mulheres preparando o corpo do Senhor para o seu sepultamento. Com que amor lhe lavaram o corpo, prepararam suas vestes, depositaram seu corpo sobre a pedra! Havia na religiosa e no acólito a absoluta falta de pressa de quem sabe que está fazendo o mais importante.
Esse episódio me ajudou a adorar Jesus logo em seguida, porque pude refletir sobre a minha pressa, a urgência que eu coloco em tantas coisas sem importância. Também me fez lembrar de uma outra situação que vivi há alguns dias. Uma pessoa me ligou relatando as situações terríveis que está vivendo com sua esposa e seus filhos, que têm feito coisas que desagradam muito a Deus. Ele me perguntou, entre lágrimas, o que eu podia fazer para ajudá-lo ali, naquele instante, e a única resposta que eu pude dar é que eu rezaria. Ele insistia comigo, desesperado, como se esperasse algum milagre, uma palavra ou oração que alcançassem instantaneamente o coração de cada membro da sua família e os arrastassem para Deus. Ao fim da ligação, fiquei pensando que em relação ao Reino de Deus somos apressados para muitas coisas: um milagre, uma cura, a vitória nesse ou naquele campo, conseguir um emprego, um namorado, a conversão de um filho, de um marido, do pai, da mãe, da vizinha… Parece faltar-nos pressa justamente para a única coisa que está ao nosso alcance: a nossa própria conversão.
A pressa é para receber, nunca para dar
Como a viúva que importuna o juiz iníquo, eu insisto que Deus me dê um milagre, consiga a graça que peço, converta fulano ou beltrano. Levanto um clamor, profetizo a vitória, brado que Deus é justo e fiel, peço que Ele se apresse para vir em meu socorro, recorro a passagens bíblicas que falam que Deus não tarda, que sua justiça não falha. Mas quando Jesus nos chama para segui-lo, dizemos que primeiro temos que enterrar nossos mortos ou nos despedir da nossa família, terminar a faculdade, criar os filhos, construir a casa e tantas outras desculpas. Nosso Senhor, contudo, exige de nós prontidão: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o reinado de Deus”. Ele também diz que quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reinado de Deus. A pressa é para receber, nunca para dar. Somos do fogo para pedir, para implorar, para receber as bênçãos do céu, mas somos mornos quando se trata de reconhecer os nossos pecados, arrepender-se e buscar mudança de vida, afinal, para que tanta urgência?
Essa não é a nossa única pressa errada, entretanto. Usamos muito mal nosso tempo também de outra maneira: queremos Deus, mas não queremos ficar com Ele. A nossa oração é acelerada, para acabar logo; as Ave-Marias se atropelam no terço; os minutos diante de Jesus demoram a passar; a homilia logo parece se prolongar demais e o momento de Ação de Graças se estende e eu já não consigo permanecer com o Senhor, pensando no que virá depois da Missa: almoço, praia, futebol, filme. Tanto para essa pressa como para a outra, faz-me muito bem observar a religiosa e o acólito em seu cuidado com a adoração eucarística. Para eles ali não havia relógio a se observar, porque Nosso Senhor é o mais importante e eles estão a Seu serviço. Se há pressa em me converter, não deve haver pressa para sair da presença de Deus, já que o amor nos impulsiona a permanecer com o amado. Não é a permanência de quem bate ponto diante de Deus até alcançar um bem desejado, como a viúva insistente. Antes, é a permanência de quem ouviu o convite do próprio Jesus de ir até Ele descansar o coração, pois quem estivesse aflito sob um fardo pesado encontraria repouso e alívio para a alma. Quem quer repouso não se apressa quando encontra a Sua Majestade. Também não fica apressando o Senhor, enchendo-o de súplicas. Apenas permanece na Presença que é maior que o tempo e que ordena todas as coisas ao nos colocar em nosso lugar: humildes, de joelhos, diante do Senhor, ao redor de quem o mundo gira.
Atenda o chamado do Senhor!
Apressemo-nos, pois, em buscar o Senhor, enquanto se deixa encontrar. Ele nos convida, está à nossa espera, mas quer de nós um coração contrito, arrependido, disposto a amá-lo acima de tudo e disponível para amar o próximo. Não nos aproximemos de Deus com um coração apressado e mercantilista, de quem oferta o próprio coração em troca da urgência de uma graça, um milagre, uma cura. Nosso Senhor curou a muitos, mas sempre foi muito claro que não foi para isso que Ele veio, e sim para pregar a Boa Nova, o arrependimento e a conversão, em vistas do Reino de Deus, que está próximo. Atendamos o chamado do Senhor, que nos diz: Levantai-vos! Vamos!
Fonte: Canção Nova
Outro dia, após a Santa Missa, o padre avisou que Jesus Eucarístico seria exposto para adoração. Fiquei observando o acólito e a religiosa que preparavam o altar. Eles retiraram as velas, o Missal, o crucifixo e trouxeram uma toalha branca, sobre a qual colocaram o trono e o ostensório. Eles fizeram tudo com a imensa segurança de quem já fez aquilo incontáveis vezes, mas não foi isso que chamou a minha atenção, e sim o absoluto cuidado em cada passo, em cada mínima etapa. Ao colocar a toalha, a religiosa agiu com tanta lentidão que parecia estar fazendo um curativo na pele ferida de uma criança. Quando ela enfim depositou a toalha sobre o altar, abaixou o corpo como se procurasse um ângulo em que pudesse ver melhor se ela estava exatamente no centro. Deve ter notado alguma imperfeição, porque puxou um pouquinho para um canto, depois mais um tantinho para o outro e a cada pequena alteração passava a mão sobre a toalha com a ternura de quem afaga um bebê. Isso se repetiu na hora de posicionar o trono e já havia acontecido com cada objeto que foi retirado do altar. Eu observava e não via outra coisa que não amor pela Sua Majestade, pelo Senhor que ocuparia em instantes aquele ostensório, mas que ocupa cada espaço nos corações daquela religiosa e daquele acólito. A cena dos dois arrumando o altar me fez imaginar Maria e as outras mulheres preparando o corpo do Senhor para o seu sepultamento. Com que amor lhe lavaram o corpo, prepararam suas vestes, depositaram seu corpo sobre a pedra! Havia na religiosa e no acólito a absoluta falta de pressa de quem sabe que está fazendo o mais importante.
Esse episódio me ajudou a adorar Jesus logo em seguida, porque pude refletir sobre a minha pressa, a urgência que eu coloco em tantas coisas sem importância. Também me fez lembrar de uma outra situação que vivi há alguns dias. Uma pessoa me ligou relatando as situações terríveis que está vivendo com sua esposa e seus filhos, que têm feito coisas que desagradam muito a Deus. Ele me perguntou, entre lágrimas, o que eu podia fazer para ajudá-lo ali, naquele instante, e a única resposta que eu pude dar é que eu rezaria. Ele insistia comigo, desesperado, como se esperasse algum milagre, uma palavra ou oração que alcançassem instantaneamente o coração de cada membro da sua família e os arrastassem para Deus. Ao fim da ligação, fiquei pensando que em relação ao Reino de Deus somos apressados para muitas coisas: um milagre, uma cura, a vitória nesse ou naquele campo, conseguir um emprego, um namorado, a conversão de um filho, de um marido, do pai, da mãe, da vizinha… Parece faltar-nos pressa justamente para a única coisa que está ao nosso alcance: a nossa própria conversão.
A pressa é para receber, nunca para dar
Como a viúva que importuna o juiz iníquo, eu insisto que Deus me dê um milagre, consiga a graça que peço, converta fulano ou beltrano. Levanto um clamor, profetizo a vitória, brado que Deus é justo e fiel, peço que Ele se apresse para vir em meu socorro, recorro a passagens bíblicas que falam que Deus não tarda, que sua justiça não falha. Mas quando Jesus nos chama para segui-lo, dizemos que primeiro temos que enterrar nossos mortos ou nos despedir da nossa família, terminar a faculdade, criar os filhos, construir a casa e tantas outras desculpas. Nosso Senhor, contudo, exige de nós prontidão: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o reinado de Deus”. Ele também diz que quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reinado de Deus. A pressa é para receber, nunca para dar. Somos do fogo para pedir, para implorar, para receber as bênçãos do céu, mas somos mornos quando se trata de reconhecer os nossos pecados, arrepender-se e buscar mudança de vida, afinal, para que tanta urgência?
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Essa não é a nossa única pressa errada, entretanto. Usamos muito mal nosso tempo também de outra maneira: queremos Deus, mas não queremos ficar com Ele. A nossa oração é acelerada, para acabar logo; as Ave-Marias se atropelam no terço; os minutos diante de Jesus demoram a passar; a homilia logo parece se prolongar demais e o momento de Ação de Graças se estende e eu já não consigo permanecer com o Senhor, pensando no que virá depois da Missa: almoço, praia, futebol, filme. Tanto para essa pressa como para a outra, faz-me muito bem observar a religiosa e o acólito em seu cuidado com a adoração eucarística. Para eles ali não havia relógio a se observar, porque Nosso Senhor é o mais importante e eles estão a Seu serviço. Se há pressa em me converter, não deve haver pressa para sair da presença de Deus, já que o amor nos impulsiona a permanecer com o amado. Não é a permanência de quem bate ponto diante de Deus até alcançar um bem desejado, como a viúva insistente. Antes, é a permanência de quem ouviu o convite do próprio Jesus de ir até Ele descansar o coração, pois quem estivesse aflito sob um fardo pesado encontraria repouso e alívio para a alma. Quem quer repouso não se apressa quando encontra a Sua Majestade. Também não fica apressando o Senhor, enchendo-o de súplicas. Apenas permanece na Presença que é maior que o tempo e que ordena todas as coisas ao nos colocar em nosso lugar: humildes, de joelhos, diante do Senhor, ao redor de quem o mundo gira.
Atenda o chamado do Senhor!
Apressemo-nos, pois, em buscar o Senhor, enquanto se deixa encontrar. Ele nos convida, está à nossa espera, mas quer de nós um coração contrito, arrependido, disposto a amá-lo acima de tudo e disponível para amar o próximo. Não nos aproximemos de Deus com um coração apressado e mercantilista, de quem oferta o próprio coração em troca da urgência de uma graça, um milagre, uma cura. Nosso Senhor curou a muitos, mas sempre foi muito claro que não foi para isso que Ele veio, e sim para pregar a Boa Nova, o arrependimento e a conversão, em vistas do Reino de Deus, que está próximo. Atendamos o chamado do Senhor, que nos diz: Levantai-vos! Vamos!