Após a recente visita do Papa Francisco ao Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, ao analisar seus pronunciamentos e debruçar-me sobre suas simpáticas, profundas e envolventes mensagens, tocando fundo o coração da gente, concluí que sempre é possível fazer algo mais.
Trazemos e alimentamos o desejo de progredir, de ser cada vez mais nós mesmos e, ao mesmo tempo, ser uma esperança ativa daquilo que os outros podem vir a ser com a ajuda de nosso apoio fraterno.
Jamais devemos estar satisfeitos com o que já alcançamos, com o bem que já realizamos; pelo contrário, é preciso libertar-se da tirania do “sempre foi assim”. Seria acariciar vícios e hábitos antigos. O que sempre fizemos “desse jeito”, a partir de hoje, podemos começar a fazer diferente e melhor. Seria trágico contaminar-se pelo vírus da síndrome da ação adiada. Adiar uma ação nova é colocar-se na contramão do crescimento, do amadurecimento, da perfeição. Fazer melhor o que habitualmente fazemos é “fazer novas todas as coisas” (cf. Ap 21, 5).
Portanto, não podemos compactuar com a mediocridade e o comodismo. Não podemos concordar com milhares de pessoas em busca de uma felicidade que, ao invés de causar alegria e paz interior, aumenta a insegurança, a insatisfação e a perda do sentido da vida. Eis a razão da luta contra a corrente avassaladora do mundo incapaz de preencher o vazio do coração humano. Há que se ousar a romper os padrões estabelecidos e avançar para metas mais elevadas, capazes de realizar os sonhos da verdadeira felicidade proposta por Deus.
Se a felicidade que o mundo oferece não realiza plenamente a pessoa humana, por que não buscá-la onde ela mora? Na verdade, quem busca realizar-se plenamente, precisa ir além de si mesmo, precisa identificar-se com a causa de Cristo, única via para se conseguir aquele algo mais do que já se é ou ainda não.
Com efeito, “a pessoa plasmada pelo amor de Deus sabe o fim para o qual foi criada e vive uma relação ordenada com as coisas, livre para escolher direcionar sua vida e todo o seu afeto e criatividade a esse fim. Ela não somente escolhe aquilo que conduz para lá; escolhe e deseja somente o que mais a conduz a sonhar com Jesus pela causa do Reino e a trabalhar com ele para fazer o seu sonho concretizar-se na história” (Itaici – Revista de Espiritualidade Inaciana, n. 92, julho/2013, Editorial, pág. 3).
Se há algo que todos perseguem com tenacidade é ser feliz. O que é a felicidade? É algo que ainda não possuímos em plenitude.
Sabemos ser feliz?
Não são os “ídolos passageiros” que fazem o coração humano feliz, mas o bem que perdura para além do espaço e do tempo. Apressa-se o mundo a fazer-nos propostas de felicidade, como ofereceu a Cristo nas tentações do deserto (cf. Lc 6, 20-26). Oculta-se nesta oferta a louca pretensão de felicidade, que deixa o coração humano vazio e o escraviza ao domínio do puramente terreno. O mundo com seus critérios de valores não entende a linguagem divina da felicidade que não termina. Programa tão paradoxal só entendem os que estão dispostos a seguir o caminho oposto, da felicidade nova. Em vez de bens que o tempo leva, preferem tesouros que nem ladrões cobiçam nem a traça corrói (cf. Mt 6, 19-20).
Deus quer comunicar sua felicidade a nós, a fim de que possamos transmitir aos outros a experiência que fazemos da felicidade de Deus em nossa vida. Sejamos mensageiros da Mensagem mais feliz do Evangelho.
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano de Santo André