As primeiras comunidades cristãs servem de inspiração para as comunidades que pretendam tornar-se discípulas missionárias de Jesus Cristo. Para alcançar esse objetivo, é necessário que seus membros participem de celebrações litúrgicas, sobretudo, da Eucaristia e do sacramento da reconciliação; exerçam o ministério do “cuidado” das pessoas segundo suas necessidades; formem comunidades de amizade e caridade; partilhem seus bens com generosidade de coração; sejam perseverantes e fiéis ao ensinamento dos apóstolos; vivam realmente em comunhão eclesial e se comprometam com a missão de anunciar e testemunhar Jesus Cristo (cf. Doc 100, CNBB, n. 104).
Deus é Trindade, é comunhão de vida, é família, “Deus é amor” (1 Jo 4, 8), escreve o “discípulo que Jesus amava”.
A Igreja é uma comunhão de vida com Deus em Jesus Cristo, significada e expressa externamente por uma comunhão de amor com os irmãos e irmãs. A união com os irmãos e irmãs é um sinal sacramental de nossa união e comunhão com Deus. A união e o amor entre os irmãos e irmãs é um reflexo do amor e da união existente no seio da Trindade.
Portanto, a dimensão comunitária é fundamental na Igreja. Sem comunidade não há como viver autenticamente a experiência cristã (cf. Doc. 100, CNBB, n. 154).
Jesus e seus discípulos constituíam uma autêntica comunidade fraterna, onde tudo era posto em comum: preocupações, sofrimentos, interesses, esperanças e alegrias, os bens materiais e espirituais. Cristo os unia acima de todas as diferenças possíveis e imagináveis. No interior dessa comunidade, acontecia a convivência de todos e cada qual com Cristo e, por conseguinte, convivência fraterna dos discípulos entre si. A comunhão vale mais do que milagres. Aliás, existe milagre maior do que o amor que gera comunhão de espíritos? Apesar de nossa diversidade, o Espírito de Jesus é capaz de realizar o milagre da união, da compaixão, da partilha.
Já na raiz somos irmãos e irmãs uns dos outros. É o mesmo Sangue de Cristo que dá vida a todos os membros da comunidade cristã. Compartilhamos a mesma fé, a mesma vida divina, o mesmo Espírito de Jesus, o mesmo sangue. Com tanto mais razão deveríamos ser capazes de partilhar as outras coisas.
A comunhão na fé leva à comunhão dos bens. Quanto mais estivermos unidos a Deus, mais abertos deveríamos estar à solidariedade e à partilha. A fé é a base da união dos espíritos e do pôr os bens em comum: “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum” (At 2, 44). A comunhão com Cristo é inseparável da comunhão com os irmãos e irmãs.
Portanto, a comunidade cristã só tem sentido quando for retrato vivo da comunhão fraterna, isto é, da caridade teologal. Valorizando cada pessoa na sua dignidade original, feita à imagem e semelhança de Deus, mais facilmente se chega a essa intercomunhão tão almejada. Então, os bens materiais são espontânea e generosamente postos à disposição da comunhão espiritual, fazendo com que desapareçam as discriminações, ninguém passe necessidade e não haja no seio de nossas comunidades indigente algum. “Quem recolheu muito não teve de sobra e quem recolheu pouco não teve falta” (2 Cor 8, 15). A comunhão com Cristo leva necessariamente à prática da partilha, do dízimo e da solidariedade fraterna.
Compartilhando nossa vida, compartilharemos também nossa missão evangelizadora e apostólica. Seremos verdadeiros discípulos(as) missionários(as) de Jesus Cristo.
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano de Santo André