O abraço comum no Egito foi dirigido às vítimas dos recentes ataques terroristas contra cristãos no país, inclusive àquelas que sofreram o atentado de dezembro de 2016, no Cairo. Na ocasião, 29 pessoas morreram vítimas de uma bomba que explodiu na capela de São Pedro, próxima do Patriarcado, no bairro cristão da capital.
No discurso desta tarde, o terceiro de cinco que serão feitos durante sua viagem apostólica ao Egito, Francisco dirigiu-se ao “caríssimo irmão”, Tawadros II, o 118° Papa da Igreja Copta-Ortodoxa, falando em árabe: “O Senhor ressuscitou. Ressuscitou verdadeiramente”.
A primeira menção de Francisco foi à recente solenidade da Páscoa que, neste ano, foi celebrada em comunhão para “proclamar em uníssono o anúncio da Ressurreição”.
Hoje, esta alegria pascal é enriquecida pelo dom de adorarmos, juntos, o Ressuscitado na oração e, por trocarmos novamente, em seu nome, o ósculo santo e o abraço de paz. Sinto-me muito grato por isso: ao chegar aqui como peregrino, tinha a certeza de receber a bênção de um Irmão que me esperava.
O Papa lembrou, então, do primeiro encontro com Tawadros, em Roma, logo depois da eleição de Francisco em 10 de maio de 2013. A data simbólica de um “caminho ecumênico” acabou sendo instituída como o Dia da Amizade Copta-Católica. A própria Declaração Comum assinada por Paulo VI e Amba Shenouda III há mais de 40 anos, em 10 de maio de 1973, acrescentou o Pontífice, também foi um marco nas relações entre a Sé de Pedro e a de Marcos na proclamação do “domínio de Jesus: juntos, confessamos que pertencemos a Jesus e que Ele é o nosso tudo”.
Naquele dia, depois de “séculos de história difícil”, em que “surgiram diferenças teológicas, que foram alimentadas e acentuadas por fatores de caráter não-teológico” e por uma difidência cada vez mais generalizada nas relações, com a ajuda de Deus chegou-se a reconhecer, juntos, que Cristo é “perfeito Deus, quanto à sua divindade, e perfeito homem, quanto à sua humanidade” (Declaração Comum, assinada pelo Santo Padre Paulo VI e por Sua Santidade Amba Shenouda III, 10 de maio 1973).
Na exortação de que “não se pode pensar em avançar cada um pela sua estrada, porque trairíamos a vontade de Jesus”, Papa Francisco fez menção a João Paulo II. Durante o Encontro Ecumênico de fevereiro de 2000, Wojtyla motivou a não se perder mais tempo com esse propósito.
Já não podemos nos esconder atrás de desculpas de divergências de interpretação, nem atrás de séculos de história e tradições que nos tornaram estranhos. […] Nesse sentido, não há só um ecumenismo feito de gestos, palavras e compromisso, mas uma comunhão já efetiva, que cresce dia a dia no relacionamento vivo com o Senhor Jesus, está enraizada na fé professada e funda-se realmente no nosso Batismo, em sermos n’Ele “novas criaturas” (cf. 2 Cor 5, 17): em suma, “um só Senhor, uma só fé, um só Batismo” (Ef 4, 5).
Na “construção da comunhão” com o testemunho diário de “levar a fé ao mundo”, Papa Francisco afirmou que “o Espírito não deixará de abrir caminhos providenciais e inesperados de unidade”. Com esse “espírito apostólico construtivo”, segundo o Pontífice, “possam coptas-ortodoxos e católicos falarem juntos, sempre mais, essa língua comum da caridade”.
O Papa Francisco, então, se disse novamente agradecido pela “atenção genuína e fraterna” de Tawadros para com a Igreja Copta-Católica, tanto através do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs como do 13° Encontro da Comissão Mista Internacional para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas Orientais.
Dando continuidade à expressão da Sagrada Escritura entre as Sés de Marcos e de Pedro, o Pontífice também falou sobre “os laços fraternos do Evangelista e a sua atividade apostólica com São Paulo” ao se referir às origens que geram uma mensagem de “caridade fraterna e comunhão de missão”.
O amadurecimento do nosso caminho ecumênico é sustentado, de modo misterioso e muito atual, também por um verdadeiro e próprio ecumenismo do sangue. São João escreve que Jesus veio “com água e com sangue” (1 Jo 5, 6); quem acredita n’Ele, assim “vence o mundo” (1 Jo 5, 5). Com água e sangue: vivendo uma vida nova no nosso Batismo comum, uma vida de amor incessante e por todos, mesmo à custa do sacrifício do sangue. Desde os primeiros séculos do cristianismo, nesta terra, quantos mártires viveram a fé heroicamente e até ao extremo, preferindo derramar o sangue que negar o Senhor e ceder às adulações do mal ou mesmo só à tentação de responder ao mal com o mal! […] Trabalhemos por nos opor à violência, pregando e semeando o bem, fazendo crescer a concórdia e mantendo a unidade, rezando a fim de que tantos sacrifícios abram o caminho para um futuro de plena comunhão entre nós e de paz para todos.
Além da história de santidade no Egito testemunhada pelo sacrifício dos mártires, o Papa Francisco lembrou de uma nova forma de vida logo que terminaram as perseguições antigas que, “doada ao Senhor, nada retinha para si: no deserto, começou o monaquismo”, disse o Pontífice.
Com veneração a esse patrimônio comum, concluiu o Papa Francisco em seu discurso a Tawadros II: que “o Senhor nos conceda a graça de recomeçar hoje, juntos, como peregrinos de comunhão e arautos de paz”. (AC)
Fonte: Radio Vaticano