O Bispo emérito de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, garantiu em recente entrevista que os comunistas conhecem a mensagem de Fátima e, por isso, “têm medo de Nossa Senhora de Fátima”.
O Purpurado esteve na Alemanha, onde participou de um evento no santuário de peregrinação alemão de Kevelaer em 13 de maio. Na ocasião, concedeu uma entrevista à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), na qual falou sobre a Igreja Católica na sociedade chinesa.
“Todos nós ouvimos falar das mensagens de Fátima. Até os comunistas! Elas os deixam muito ansiosos”, expressou o bispo emérito, ressaltando que “os comunistas têm medo de Nossa Senhora de Fátima”.
Segundo ele, “toda a situação está se tornando ridícula: por exemplo, os comunistas nada têm contra as pessoas levarem fotos de ‘Maria Imaculada’ ou representações da imagem milagrosa de ‘Maria Auxiliadora’ para a China vindas do exterior”, explicou.
Entretanto, “fotos de ‘Nossa Senhora de Fátima’, por outro lado, não são permitidas”, disse. De acordo com o Cardeal, “eles consideram os eventos em Fátima como ‘anticomunistas’. O que é, naturalmente, nada além da verdade!”.
Por outro lado, recordou que “a veneração de Nossa Senhora sob o título de ‘Auxiliadora’ está profundamente enraizada em toda a China e tem sido assim por muito tempo”.
Porém, não se trata de uma devoção mariana que busca a ajuda individual aos fiéis, “mas também para ajudar a igreja como um todo”, esclareceu, assinalando que “o principal perigo na China hoje é o ateísmo materialista”.
O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun denunciou que “o comunismo chinês é uma forma de imperialismo desenfreado”. De acordo com ele, “a corrupção desenfreada, também dentro do partido, atesta isso”.
E, em um cenário em que “a obediência absoluta à liderança estatal é a única coisa que conta”, tudo está piorando, segundo o Purpurado, “através da abertura do setor econômico e da crescente afluência”.
O Bispo emérito admitiu que no início do governo de Xi Jinping “tinha grandes esperanças, porque o presidente tomou medidas contra a corrupção tanto no governo, quanto na sociedade”. Entretanto, “rapidamente ficou evidente que ele também estava interessado apenas no poder”.
“As pessoas que lutam pelos direitos humanos passaram a ser reprimidas, perseguidas, humilhadas e condenadas em julgamentos de propaganda em nome do seu governo”, denunciou.
Nesse sentido, salientou que os cristãos devem ter um importante papel na sociedade chinesa para fazer frente a este contexto. “Tudo depende de saber se conseguiremos viver nossa fé de forma autêntica – sem fazer muitos compromissos com o governo”, advertiu.
Em 1957, o regime de Pequim criou a Associação Patriótica Católica para impedir interferências estrangeiras, em especial da Santa Sé, e para assegurar que os católicos chineses vivam a sua fé em conformidade com as políticas do Estado.
Sobre as recentes negociações entre a Santa Sé e a liderança chinesa, o Cardeal disse achar que “ainda levem muito tempo”. “Na minha opinião, a liderança do Estado não aceitará qualquer outro resultado do que a subjugação da igreja à liderança do Partido Comunista”.
Como exemplo, citou um caso recente, quando os bispos da chamada “igreja subterrânea” foram “forçados a participar de cursos de formação política durante a Semana Santa e, portanto, não puderam celebrar a liturgia com os seus fiéis”.
Ao ressaltar que existem “cristãos na China que defendem corajosamente uma sociedade melhor”, o Cardeal Zen Ze-kiun lamentou que “muitos deles estão na prisão”.
Porém, defendeu que, se um dia o comunismo cair, “os católicos devem estar entre aqueles que irão construir uma nova China”. Mas, para isso, alertou que os católicos não podem desperdiçar “sua credibilidade de antemão, fazendo compromissos vazios com a liderança comunista”.