Estamos em pleno período quaresmal. “Tempo favorável” de graça e de preparação para a Páscoa do Senhor. Este tempo nos convida a uma vivência mais intensa de nosso Batismo.
Diversamente de outros períodos do ano litúrgico, a Quaresma é um espaço de tempo em que a escuta meditativa da Palavra de Deus deve ser acompanhada por obras que denotem uma atitude consciente de conversão. As disposições interiores devem acompanhar a observância exterior das práticas religiosas.
O itinerário quaresmal é caminho seguro de libertação de tudo que nos impede de crescer na prática da fé e da caridade. “A fé, se não se traduz em ações, por si só está morta” (Tg 2, 17).
Em sua Mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa Francisco lança o grande desafio da “globalização da indiferença”. Deus não olha ninguém com indiferença; pelo contrário, conhece cada um de nós pelo nome, cuida de nós, interessa-se por nós. Não nos deixa faltar nada. O mesmo não acontece conosco. Facilmente nosso coração mesquinho cai na indiferença, sobretudo, quando tudo corre bem para o nosso lado.
Por isso, o Santo Padre insiste em que tenhamos corações fortes e cheios de misericórdia, corações vigilantes e generosos, que conheçam suas fragilidades e limitações; enfim, corações capazes de se gastarem pelos outros.
O que nos torna indiferentes ao sofrimento do próximo são nossas atitudes egoístas, opostas à natureza missionária da Igreja, que deve estar sempre aberta para todos.
Neste sentido, o apelo do Papa é de que as paróquias e comunidades se transformem em verdadeiras “ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”, evitando a tentação de se refugiarem num amor universal que se compromete no mundo distante, mas esquecendo o Lázaro sentado diante da própria porta fechada (cf. Lc 16, 19 – 31).
O Papa exorta ainda que vivamos a comunhão dos Santos, fazendo algo pelos que estão longe, por aqueles que nunca poderíamos, só com as nossas simples forças, alcançar.
Ao concluir sua Mensagem, o Sucessor de Pedro “pede a todos para viverem este tempo da Quaresma como um percurso de formação do coração”, na certeza de que “ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil, mas um coração forte, firme, fechado ao tentador, mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e às irmãs”. Somente um coração forte vencerá a indiferença. Aprendamos a olhar para as pessoas com o coração de Deus!
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano de Santo André