Durante a conferência de imprensa de 46 minutos no voo de volta da Turquia, o Papa Francisco refletiu sobre o ecumenismo, e assinalou a existência de um “ecumenismo de sangue” entre cristãos de diferentes denominações no Oriente Médio, no qual “nossos mártires estão gritando: ‘Somos um!’”.
Segundo o Vatican Insider, o Santo Padre assinalou que pensa que com os ortodoxos “estão em caminho; eles têm sacramentos e sucessão apostólica. Estamos em caminho”.
Para Francisco disse que “se tivermos que esperar que os teólogos entrem em acordo… Esse dia nunca chegará!”.
“Sou cético: os teólogos trabalham bem, mas Atenágoras já tinha dito: ‘Coloquemos os teólogos em uma ilha para que discutam e nós continuemos adiante! ’”.
“A unidade é um caminho que se deve fazer, e se deve fazer juntos; é o ecumenismo espiritual, rezar juntos, trabalhar juntos. E depois está o ecumenismo de sangue: quando estes matam os cristãos, o sangue se mistura. Nossos mártires estão gritando: ‘Somos um!’”.
Abordando o tema do Primado de Pedro na Igreja, Francisco, recordou uma recente reunião com o metropolita Hilarion, presidente do Departamento para as relações exteriores do Patriarcado de Moscou, e destacou que “é preciso continuar com o pedido de João Paulo II: ‘ajudem-me a encontrar uma fórmula de primado aceitável para as Igrejas ortodoxas’”.
O Papa assegurou que “o que sinto mais profundamente neste caminho para a unidade é a homilia que fiz ontem sobre o Espírito Santo: somente o caminho do Espírito Santo é correto. Ele é surpresa, Ele é criativo”.
“O problema -e esta talvez seja uma autocrítica, mas também disse isso nas Congregações gerais antes do Conclave- é que a Igreja não tem luz própria, deve ver Jesus Cristo”.
“As divisões existem porque a Igreja olhava muito a si própria”, disse.
O Santo Padre assinalou que “enquanto comíamos hoje, com (o Patriarca Ecumênico) Bartolomeu, falamos do momento no qual um cardeal foi levar a excomunhão do Papa ao Patriarca: a Igreja olhava muito a si própria nesse momento”.
“Quando olhamos para nós mesmos nos tornamos autoreferenciais”.
Francisco destacou que “os ortodoxos aceitam o primado: nas ladainhas de hoje rezaram pelo seu pastor e primado, ‘aquele que caminha primeiro’. Disseram isso hoje diante de mim”.
“Para encontrar uma fórmula aceitável devemos ir ao primeiro milênio. Não digo que a Igreja tenha errado (no segundo milênio), não! Fez o seu caminho histórico. Mas agora o caminho é seguir adiante com o pedido de João Paulo II”.
O Papa destacou que as preocupações dos conservadores que suspeitam da abertura para os ortodoxos não são somente um problema da Igreja Católica, mas “este é também um problema dos ortodoxos, de alguns monges e de alguns mosteiros”.
“Por exemplo, desde os tempos do beato Paulo VI se discute sobre a data da Páscoa e não nos colocamos de acordo. Com este ritmo, nossos tataranetos vão celebra-la em agosto”.
Francisco recordou que “o beato Paulo VI tinha proposto uma data fixa, um domingo de abril”.
“Uma vez, enquanto eu estava em Via della Scorta e estavam fazendo os preparativos para a Páscoa, escutei um oriental que dizia: ‘Meu Cristo ressuscita dentro de um mês’. Meu Cristo, seu Cristo… Há problemas”.
Entretanto, destacou, “devemos ser respeitosos e não nos cansar de dialogar, sem insultar, sem sujar-se, sem fofocar”.
“Mas se alguém não quer dialogar. Mas se necessita paciência, mansidão e diálogo”, assegurou.