Você é jovem, católico devoto, e sua popularidade anda em baixa na escola, na faculdade ou entre os amigos do bairro? Normal! Estranho seria se fosse diferente. Talvez você seja – guardadas as devidas proporções – uma espécie de “Jeremias contemporâneo”.
Não há profeta na Bíblia que melhor represente a situação de muitos jovens católicos de hoje do que Jeremias. Ele sonhava em tomar um chôpis e comer dois pastel com os amigos, sentar na birosca com a galera e falar besteira. Enfim, ele queria ser um cara “normal”. Mas os planos de Deus para a sua vida eram outros…
Ainda no ventre de sua mãe, Jeremias foi escolhido e consagrado por Deus como profeta (Jer 1,5). Ao chegar à adolescência, recebeu a missão de propagar as profecias mais agourentas de toda a história de Israel. Suas palavras duras expressavam a justa ira do Senhor. E, para o profeta, isso tinha um preço…
“Nunca me sentei numa roda alegre para me divertir. Forçado pela tua mão, sentava-me sozinho, pois encheste-me de cólera. Porque será que a minha dor não tem fim e a minha ferida é tão grave e sem remédio?” (Jer 15, 17-18)
O povo tava vacilando demais, e as consequências de tanta maldade seriam nefastas. Porém, ninguém estava disposto a escutar as censuras e previsões do profeta – como a destruição de Jerusalém, do templo de Salomão e o longo exílio dos hebreus na Babilônia –, e o tratavam como um maluco fanático e inconveniente.
A Palavra de Deus, que Jeremias sempre havia “devorado”, e era motivo para “festa e alegria” no seu coração (Jer 15, 16) se tornou para ele uma pesada cruz. Jeremias foi preso, sofreu diversas tentativas de assassinato e, por onde passava, era alvo de ofensas e zombarias. Por isso, se sentiu muitas vezes tentado a abandonar sua missão. Mas manteve a fé e perseverou.
“A palavra de Javé tornou-se para mim motivo de vergonha e escárnio o dia inteiro. A mim mesmo dizia: ‘Não pensarei mais n’Ele, não falarei mais no seu Nome!’
“Javé, porém, está ao meu lado como valente guerreiro. Por isso, aqueles que me perseguem tropeçarão e não conseguirão vencer…” (Jer 20, 8-11)
Como um típico adolescente em crise, Jeremias amaldiçoou por mais de uma vez o dia em que nasceu. Sua relação com Deus era dramática: os momentos de ternura e louvor se alternavam com queixas e ressentimentos. Chegou mesmo a acusar o Senhor de ser pouco confiável (Jer 15, 18).
Mas Jeremias sempre se reconciliava com Ele, se convertia novamente, reafirmando a sua esperança de que, no final de tantas dores, tudo acabaria bem. Deus estava no comando, era dEle a vitória.
Esse é um exemplo de coragem e fidelidade para os jovens católicos que, em nossos tempos, são hostilizados nas escolas, universidades e outros ambientes, por causa de sua fé e de seus valores.
É claro, poucos são aqueles cuja experiência de fé se identifica com a de Jeremias. A maioria, na verdade, prefere se adaptar aos seus amigos mundanos, a quem amam mais do que a Cristo; assim, evitam proferir qualquer palavra que possa contrariar a opinião do grupo. Suas línguas foram podadas pelo capeta.
Muitos desses católicos frouxos veem como demonstração de ódio qualquer palavra que expresse a justa ira. E se justificam com chavões batidos: “não podemos julgar ninguém”; “Cristo pregou o amor, palavras duras semeiam a divisão”; “devemos procurar viver em paz com todos…”. Segundo eles, da boca de um autêntico cristão só podem sair palavras positivas e de “paz”.
Sobre esse tipo de gente, Jeremias falou: “Sem responsabilidade, querem curar a ferida do meu povo, dizendo: ‘Paz! Paz!’, quando não existe paz” (Jer 6,14). Eles ignoram completamente as palavras do Mestre:
“Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa.”
(Mateus 10, 34-36)
Quanto a você que anda nos passos de Jeremias: persevere, amigo. Momentos ruins passam; em breve, você vai lembrar desta época de provações com alegria. Tenha certeza de que o Senhor te dará amigos 100 vezes mais verdadeiros do que estes que você tem perdido (lembra-se da promessa do cêntuplo?). Quem ri por último – ou melhor, quem ri com Cristo – ri melhor!