Uma das razões pelas quais Bento XVI proclamou o Ano da Fé é a necessidade de um forte reavivamento da fé num só Deus que é Amor (cf. 1 Jo 4, 8). Já o Papa Paulo VI pensava que a Igreja poderia com um ano da fé retomar “exata consciência da sua fé para a reavivar, purificar, confirmar, confessar” (cf. PF, 4).
O Ano da Fé é essencialmente um convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. A necessidade e utilidade pastoral do Ano da Fé é mais do que evidente, ou seja, é mais do que urgente para tirar o “cansaço da fé”e tornar Deus presente neste mundo, quer dizer, “é preciso saber preencher o vazio espiritual que se observa no tempo atual” (Bento XVI).
A crise de fé é uma expressão dramática de uma crise antropológica, que abandonou o ser humano a si mesmo. Por isso, ele encontra-se hoje confuso, sozinho, à mercê de forças que ele não conhece e sem uma meta à qual dedicar a sua existência.
Seria muito mais fácil crer, se a fé fosse baseada em vidências do saber. Vivemos, porém, uma fé exposta a todo tipo de crenças e convicções, e o próprio ato de crer não é evidente; pelo contrário, muitas vezes obscuro até mesmo para quem tem fé.
Sempre houve no mundo certa incredulidade ou certo ateísmo existencial. Esta incredulidade obriga a que se cultive uma fé pessoal que já não vem nem se possui por herança nem por tradição familiar. Ronda por aí um verdadeiro ateísmo militante… Por isso mesmo, somos desafiados a combater a falta de fé ou o distanciamento da fé em condições de ambiente cada vez mais hostil e adverso. Não foi por acaso que nosso Papa emérito impeliu os cristãos para os “desertos do mundo contemporâneo”, isto é, para onde a terra da fé apresenta rachaduras da infertilidade, inclusive entre os batizados. Eis por que o ato de crer deve fazer parte de nossa vida cristã cotidiana.
Assim sendo, é necessário um empenho eclesial mais convicto de uma nova evangelização”, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé (cf. PF, 7). Segundo Santo Agostinho, os crentes “fortificam-se acreditando”. Por conseguinte, “só acreditando é que a fé cresce e se revigora” (PF, 7). Nesse sentido, o Ano da Fé quer oferecer às pessoas que já creem um apoio para a fé cotidiana, e para quem ainda está procurando a Deus, um sinal concreto de que Deus está presente e vivo no meio de nós.
Façamos da fé nossa companheira inseparável de vida, a fim de que sejamos os instrumentos credíveis e capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida eterna. Intensifiquemos igualmente o testemunho da caridade. A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. “Fé e caridade reclamam-se mutuamente… Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado” (PF, 14).
Felizes somos nós porque acreditamos… Mas a fé precisa crescer, tornar-se adulta, madura. Ela cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e quando se comunica como experiência de graça e de alegria (cf. PF, 7).
Vivamos o Ano da Fé com coragem, entusiasmo e alegria, levando a todos uma palavra de paz e de esperança. Cada ato autêntico de fé de nossa parte vale por dezenas de atos de incredulidade proferidos ao nosso redor. Dando testemunho da fé, ajudaremos o mundo secularizado a voltar atrás e a converter-se, pois, se não crermos, não poderemos subsistir (cf. Is 7, 9) nem agradar a Deus (cf. Hb 11, 6). Por isso, com os olhos fixos em Jesus, rezemos diariamente: “Senhor, eu creio, mas aumentai a minha fé!”.
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo de Santo André