Estamos caminhando para o final do “Ano da Fé”.
Muitas iniciativas inspiradas nas propostas da Carta Apostólica “Porta Fidei” (A Porta da Fé) foram colocadas em prática. Desde o início de seu Pontificado, o Papa Emérito Bento XVI lembra “a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (PF, 2).
Seria sumamente melancólico chegar ao encerramento do Ano da Fé sem um crescimento e fortalecimento da fé teologal em nossa vida pessoal e comunitária.
No Documento “Viver o Ano da Fé”, do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização (cf. Documentos da Igreja – 11, Edições CNBB, Brasília, 2013), encontramos diversas orientações e propostas a serem assumidas pelas comunidades eclesiais. A seguir, apresentamos algumas considerações que nos poderão ajudar a vivenciar este Ano com abundantes frutos espirituais.
O Ano da Fé conseguiu incutir em nós o quanto é belo e consolador ter e praticar a fé? O que seria de nós sem a fé? O que é mais fácil: crer ou não crer? O ser humano foi criado para relacionar com Deus, isto é, para viver eternamente em comunhão com Ele.
O Catecismo da Igreja Católica (n. 27) recorda “que o ser humano é a única criatura “capaz de Deus”. Isto, não porque possa sozinho alcançá-lo e conhecê-lo, mas em um sentido mais profundo, porque o homem foi criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem para si e somente em Deus ele encontrará a verdade e a felicidade que busca incessantemente”.
Deus facilitou sua visibilidade. Revelou a sua face. Quis habitar e viver no meio de nós, para que pudéssemos conhecê-lo e amá-lo. Na verdade, Deus deseja fazer-se conhecer porque deseja ser amado. Jesus Cristo é a verdadeira revelação de Deus: “Filipe, quem me viu, tem visto o Pai” (Jo 14, 9). Não existe nenhuma outra revelação que manifeste o rosto divino. Assim sendo, “podemos crer em Deus, porque Deus nos toca, porque Ele está em nós e também porque se aproxima de nós exteriormente”. Podemos nele crer, porque está naquele que nos enviou: ele viu o Pai (cf. Jo 6, 46); ele é “o único a conhecê-lo e que pode revelá-lo”. Poderíamos dizer então que a fé é a participação no olhar de Jesus” (cf. Viver o Ano da Fé e cit., pág. 27).
Por outro lado, o cristão jamais pode pensar que crer seja um fato privado. A fé não é um ato exclusivamente um ato individual, mas eclesial. “Uma comunidade paroquial, e também toda Igreja local que não seja capaz de comunicar com palavras novas a Palavra eterna, que não seja capaz de gestos, sinais, caminhos corajosos, buscadas e experimentadas com criatividade, poderia ser um perigoso sinal de declínio na resposta ao dom da fé que o Espírito dá, constantemente, a todos” (ibidem, pág. 181).
Redescobrir a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo na comunicação da fé, será um dos grandes frutos do Ano da Fé. A fidelidade ao Evangelho se mede pelo vínculo coerente entre a fé professada, celebrada e testemunhada.
Entre as principais finalidades do Ano da Fé há a de convencer todos os fiéis sobre a importância do conhecimento dos conteúdos que compõem o mistério no qual cremos. O Símbolo é a síntese do mistério da fé. Por isso, o Credo deve ser conhecido de cor e se tornar a oração diária de todo cristão. Diz o Catecismo: “A oração é a vida do coração novo e ela deve nos animar a cada momento… É preciso se lembrar de Deus com mais frequência do que se respira” (n. 2697).
Façamos do Símbolo da fé a meditação diária de nosso coração. No dizer de Cirilo de Jerusalém, “o Símbolo da fé não foi composto segundo as opiniões humanas, mas consiste na reunião dos pontos que se destacam, escolhidos em toda a Escritura, para oferecer uma doutrina completa da fé. E assim como a semente da mostarda contém muitos ramos em um minúsculo grão, este compêndio da fé contém todo o conhecimento da verdadeira piedade do Antigo e do Novo Testamento”.
O sentido de pertença à Igreja implica a consciência de que a fé vive pela transmissão dentro de uma tradição que leva até Cristo. Não interrompamos essa transmissão, pelo contrário, vivamos mais intimamente a fé.
Escrevamos e gravemos o Símbolo da fé na memória e no coração, para fazer dele nossa oração de cada dia. Será a maior prova de que o Ano da Fé valeu a pena.
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano de Santo André