Benedetta Capelli – Cidade do Vaticano
Poucos dias após sua nomeação como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o bispo de Albano, Dom Marcello Semeraro, se prepara para mais um passo ao qual foi chamado pelo Papa, ou seja, vestir a púrpura cardinalícia. Com setenta e dois anos, da Apúlia, Dom Semeraro nos fala sobre os sentimentos que o permeiam, entre surpresa, gratidão e senso de responsabilidade. Em seguida, seu ato pessoal de entrega a um jovem santo e a seus sonhos:
R.- Já estava em casa, consegui me conectar para a recitação do Angelus e acompanhei a oração, então soube pelas palavras do Santo Padre desta nomeação a tão pouca distância da outra que mudou um pouco o ritmo da minha vida. E esta é mais uma surpresa. Sinto extrema gratidão ao Santo Padre por este gesto de confiança e também de grande responsabilidade e compromisso no serviço à Igreja. Uma coisa que imediatamente me passou pela cabeça ao ouvir a lista, visto que inicialmente ouvi o nome do secretário do Sínodo, foi a sinodalidade que indica o caminho de comunhão da Igreja. E depois minha responsabilidade: prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Essa é outra sinodalidade, outra comunhão, é a comunhão do Céu. Nós na terra, servindo e vivendo na Igreja, devemos tentar refletir aquela comunhão celestial para a qual caminhamos, como nos diz a festa de Todos os Santos que celebraremos em breve. Assim, esses foram os sentimentos que passaram pela minha mente naquele momento.
O senhor recordou que em pouco tempo passou ao cargo de prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e logo após ao cardinalato. Também em nível pessoal, como se sente em aceitar esses desafios importantes para o serviço da Igreja?
R.- Do ponto de vista pessoal, mesmo considerando a minha idade, já havia entrado na ordem das ideias de apresentar a renúncia ao ofício do governo da diocese, como exigido pela disciplina eclesiástica. Portanto estava, ao menos espiritualmente, nessa condição de desapego que, por aquilo que é meu compromisso na diocese, é um momento de generatividade. De fato, a paternidade pede para gerar, mas também pede para se desapegar para deixar os filhos livres em seu caminho. Portanto eu já estava nessa perspectiva. Agora, por outro lado, se apresenta a questão de recomeçar, de reiniciar um serviço que me coloca em contato sobretudo com uma experiência de Santidade, e isso para mim é motivo de grande conforto, de grande encorajamento. Pude aceitar o convite do bispo de Assis para ir até lá para a conclusão das celebrações da beatificação de Carlo Acutis, onde estive na segunda-feira. Quando me vi diante de seu túmulo, olhei para aquele jovem beato e me veio à memória um ícone que uma vez o Santo Padre me havia dado em muitas cópias para eu distribuir aos sacerdotes e outras pessoas. Um ícone que se chama Santa Koinonia, onde é representado um jovem monge que carrega um idoso nos ombros. Num encontro com os jovens, o Papa falou deste ícone e os convidou a assumir os sonhos da Igreja e também as suas esperanças. E eu, diante do corpo do beato Carlo Acutis, pedi a este jovem que me carregasse com seus sonhos sobre seus ombros, para me ajudar a viver o ministério ao qual o Papa dignamente me chamou.
O Papa Francisco, no domingo, depois de ter listado os nomes dos cardeais, pediu orações por cada um “para que, confirmando sua adesão a Cristo, me ajudem – disse ele – no ministério de bispo de Roma para o bem de todo o santo povo fiel de Deus”. O que essas palavras representam para o senhor? Que responsabilidades elas implicam?
R.- Na minha humilde opinião, o Papa está totalmente envolvido num projeto que podemos resumir na palavra “cuidado”, a “cura animarum”, fórmula tradicional também no código de Direito Canônico para indicar nosso ministério, que significa cuidar, ajudar uns aos outros, carregar os fardos uns dos outros, como diz São Paulo. Isso o Papa pede. O Papa não é esta figura gigantesca desenhada pela mitologia que assume todo o mundo sobre si, é Cristo que assumiu sobre si as nossas fraquezas e nas suas chagas permite-nos curá-las. O Papa vive nesta comunhão, é ministro de comunhão e também o dogma do Primado do Romano Pontífice fala do Papa como ministro de comunhão com o episcopado e a Igreja. Portanto, é certo que ele sinta a necessidade de ter colaboradores no desempenho de seu ministério. Por outro lado, também o trabalho da reforma da Cúria que tem sido realizado nestes anos e que vai em direção de seu cumprimento nestes meses, é o esboço de uma grande colaboração com o ministério do sucessor de Pedro.