Aproximando-me do Natal do Senhor, um sentimento forte de ternura e amor invade o meu coração. Insistentemente vem ao meu pensamento a cena comovente do nascimento de Jesus: “Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. Ela deu à luz a seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.” (Lc 2, 6-7)
Desde a primeira vez que ouvi: “…não havia lugar para eles na hospedaria”, fiquei impressionado, perplexo. É possível isso?
O presépio sempre me encantou. Desde quando acreditava que era o Menino Jesus quem trazia o presente de Natal para a gente, permanecia longos minutos a contemplar o presépio. Olhar para o Menino Jesus enchia meu coração de alegria e gratidão. Queria estar diante Dele, Maria e José com o mesmo coração simples dos pastores e as mãos cheias de presentes como os Magos. Embora indigno de abeirar-me da manjedoura, queria estar bem pertinho do Menino e segredar-lhe ao ouvido todo o meu amor para com ele. Quem não gostaria de dialogar com uma criança linda, inocente, carinhosa, sorridente, como o próprio Deus feito Menino?
O que dizer do lugar onde a Criança nasceu? Uma manjedoura no lugar de um berço, num lugar frio, sem as mínimas condições para abrigar um bebê, muito menos o Filho de Deus! Minha perplexidade aumenta quando me ponho a imaginar que Deus quis nascer assim, longe de uma casa, longe de uma maternidade, num estábulo. Olhando para o que ali acontecia, não era possível perceber que o recém-nascido era o Salvador, o Deus-conosco. Este, porém, é o jeito divino de surpreender, em nada se assemelhando aos critérios humanos. Quem de nós não escolheria outro lugar, outra forma para Deus se fazer um de nós?
Contemplando o Menino na manjedoura, vejo no seu rosto, na sua pobreza e na sua fragilidade, milhões de crianças abandonadas, desnutridas, sem casa, sem família, sem carinho, sem amor. São os “Meninos Jesus” de hoje, expostos à maldade, à violência dos poderosos e à omissão dos bons.
Quando vejo o Menino no colo da Mãe amorosa, não consigo esquecer as crianças jogadas em caçambas e lixões, vítimas do egoísmo e da exploração de toda ordem. Fixando mais demoradamente meu olhar sobre o rostinho puro e cheio de vida do Deus Menino, meu coração fica estarrecido pensando nas milhares de crianças mortas antes de nascer.
Contemplando o Menino nos braços do “Pai José”, que o acalentava com seu jeito e olhar paternos, sinto meu coração vibrar de alegria, com um profundo sentimento de paz e reconhecimento. Ajoelhado diante do presépio, penso que não há como não nos sentirmos mais irmãos e amigos uns dos outros tendo como exemplo a Sagrada Família e nos sentindo parte Dela. Jesus é a fonte da paz e da comunhão fraterna.
Na Noite Santa, convido você a unir-se comigo à voz dos anjos para cantar “Paz na Terra aos que são do seu agrado”. Todos nos sentiremos tocados pelo Príncipe da Paz, que veio proclamar: “Felizes os que promovem a paz”.
Entretanto, olhando para o mundo, pergunto-me: “Onde está a paz, a comunhão, a fraternidade universal?” É preciso que renovemos nossa esperança. Ela não decepciona (cf. Rm 5, 5). Da manjedoura de Belém, vemos brotar uma fonte de graça e de salvação. Vemos Jesus Menino de braços abertos abraçando o mundo inteiro, sobretudo, os mais desesperançados e menosprezados.
Do presépio, fornalha ardente de caridade, surge o Sol nascente, Luz sem ocaso, Amor infinito. Com todo o coração, espero ansiosamente que no Natal deste ano o Aniversariante seja mais acolhido, mais festejado, mais amado, mais adorado!
“Olhando para Você, meu querido Menino Jesus, quero aprender a ter um coração acolhedor capaz de abrigar e abraçar a todos como irmãos e irmãs”.
Assim, com muita alegria e amor, quero olhar para Você com o coração de Maria, com os olhos de José, com a admiração dos pastores, com a veneração dos Magos e o encanto dos Anjos.
Desejo a todas e a todos um Feliz e Santo Natal!
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano de Santo André