Estamos confinados, de modo restrito, aqui na França desde o dia 14 de março. Provavelmente, se tudo estiver bem, retomaremos, pouco a pouco, nossas atividades a partir de 11 de maio. Nesse contexto, nenhuma religião pode reunir seus fiéis para nenhum tipo de cerimônia, exceto para funerais, com a presença de, no máximo, 20 pessoas no local da celebração.
Somos a Igreja do Senhor, e cada um dos batizados é um membro do Corpo de Cristo (1 Co 12,27). Nossas igrejas são locais importantes para prestarmos, juntos, um culto comunitário a Deus.
Na igreja, sentimo-nos mais unidos e partilhamos nossa fé com alegria – um é sustento do outro. A igreja é o lugar onde, habitualmente, vivenciamos a Missa, a qual, claro, tem um valor inestimável, pois nela recebemos os sacramentos que nos permitem continuar avançando até o Reino dos Céus.
Temos, contudo, que ter bem claro em nossos corações: não celebrar em comunidade e não ter acesso aos sacramentos não significa esfriar e perder a vitalidade, pelo contrário: “católicos, é hora de intensificar as orações”. Entender isso é um passo importante para atravessar a crise da pandemia sem viver uma crise de fé.
Seja Igreja!
Na primeira Carta aos Tessalonicenses, São Paulo nos dá vários conselhos sobre a vivência da fé cristã, e acho que eles servem perfeitamente para a crise atual:
“Consolai-vos mutuamente e edificai-vos uns aos outros, como já o fazeis. Suplicamo-vos, irmãos, que reconheçais aqueles que arduamente trabalham entre vós para dirigir-vos no Senhor e vos admoestar. Tende para com eles singular amor, em vista do cargo que exercem. Conservai a paz entre vós. Pedimo-vos, porém, irmãos, corrigi os desordeiros, encorajai os tímidos, amparai os fracos e tende paciência para com todos. Vede que ninguém pague a outro mal por mal. Antes, procurai sempre praticar o bem entre vós e para com todos. Vivei sempre contentes. Orai sem cessar. Em todas as circunstâncias, dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo. Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo: abraçai o que é bom. Guardai-vos de toda a espécie de mal” (I Ts 5,11-22)
Na prática, entendemos e queremos intensificar as orações: queremos ter forças para “atravessar a tempestade” com o coração cheio de esperança e para pedir ao Senhor que nos “livre de todo mal”. Mas, estando já há mais de um mês confinados, ouvindo algumas pessoas por telefone, e dando-me conta da minha própria realidade, percebi que este bom desejo de caminhar na fé e com coragem pode esfriar rapidamente. Irmãos, não é fácil viver a fé sozinhos. Prestem atenção: sozinhos estamos em perigo!
Para vivermos nossa fé, não podemos negligenciar nosso corpo nem a nossa mente. Somos a religião da encarnação – Deus se fez homem! E lembremo-nos: Deus nos deu um corpo. Por isso, depois de algumas leituras sobre o assunto, partilho com vocês nove pistas sobre como viver a quarentena da melhor maneira possível:
Dicas
1. Crie um ritmo para o seu dia: tenha hora para se levantar, fazer suas refeições, rezar, brincar, estudar e dormir. Pense em criar um programa para a semana, com metas a cumprir (limpar a casa, arrumar o armário, ler um livro etc.) Faça com que os fins de semana sejam diferentes dos demais dias.
2. Mexa-se: nosso corpo influencia muito nosso humor: ele não pode ficar parado. Ideias de exercícios físicos, às vezes simples, não vão faltar, tenho certeza.
3. Permita-se fazer coisas que lhe dão prazer: uma boa comida, ouvir boa música, dançar, fazer artesanato etc.
4. Cuide de suas relações com familiares e amigos: telefone, escreva ou faça “lives”. Esse contato, ainda que virtual, é de extrema importância.
5. Pense nas pessoas em dificuldade: a solidariedade faz bem para todos – para quem faz e para quem recebe! Procure ver quem são as pessoas que precisam ou que estão sozinhas, sobretudo idosos, e veja como pode ajudar (e não se preocupe: faça somente aquilo que está ao seu alcance).
6. Administre os conflitos da melhor maneira possível. Passar muito tempo junto, às vezes numa casa pequena, não é nada fácil. A paciência pode se esgotar muito rápido. Brigas são frequentes em muitos lares. No que estiver ao seu alcance, deixe para lá; ficar remoendo tal comportamento ou tal palavra faz mal para todo mundo. Se puder, diga o que está sentindo e dê espaço aos outros para que falem também. Se preciso for, delimite espaços privados em casa – isso não é faltar com caridade, é respeitar o outro.
7. Use a razão: já fez todo o possível para evitar a propagação do vírus? Se sim, não fique com “neuras” em casa, achando que tudo e todos estão contaminados. Aliás, muitas horas nas redes sociais ou vendo os jornais, pode contaminar o cérebro e suas relações sociais. Saiba que não tem problema se você não viu quantas pessoas foram contaminas ou mortas nos últimos três dias!
8. Lembre-se de que estamos atravessando uma crise, e que ela vai passar. Na sua vida, quantas tempestades você já teve que enfrentar? Se puder, lembre de algumas delas e perceba como elas foram ocasiões de dor, mas, sobretudo, de crescimento e aprendizado. Agradeça e confie no Senhor, que é o seu pastor e que está sempre ao seu lado.
9. Cuide de sua vida interior – é assim que você se sentirá fortalecido. Sobretudo, leia a Bíblia: a leitura assídua da Palavra de Deus reconforta, encoraja, anima, orienta, consola, instrui, dá esperança e cura os corações dos medos e traumas.
Fonte: Canção Nova