É preciso desejar ser santo e reconhecer que não há santidade sem aceitação de si mesmo. As duas atitudes não se opõem. Precisamos reconhecer nossos limites, mas nunca ter face a eles uma atitude resignada ou medíocre, ao contrário, convém ter um desejo de mudança que não seja uma rejeição de nós mesmos.
Para todo esse processo, é necessário suplicar que o Espírito Santo nos dê a graça da aceitação da verdade e da humildade, e isso não é fácil, porque o orgulho e o medo de não ser aceito e a frágil convicção do nosso valor estão muito enraizados em nós. Só o olhar de Deus pode nos curar, porque o Senhor mesmo disse que temos valor aos seus olhos e que Ele nos ama (cf. Is 53,4).Trazemos em nós uma necessidade vital do olhar do outro, seja de um amigo, um parente ou uma autoridade espiritual, mas é certo que o olhar de Deus vale mais que todos os olhares, pois é o olhar do amor e da verdade que há no mais íntimo de nós.
O livro “A volta do Filho Pródigo”, de Henri Nouwen, evidencia a urgente necessidade de um dia em nossa vida termos a experiência de reconhecer que a nossa verdade está estampada nos olhos de Deus: “Por muito tempo eu achei que era uma espécie de virtude ter baixa auto-estima. Fui tantas vezes prevenido contra o orgulho e a presunção que acabei achando que era bom me depreciar. Mas agora compreendo que o verdadeiro pecado é negar o amor primeiro de Deus por mim e ignorar a bondade original. Porque sem reivindicar esse primeiro amor e essa bondade original, perco contato com o meu verdadeiro eu e enveredo, entre pessoas e lugares errados, numa busca destrutiva pelo que só pode ser achado na casa de meu Pai” [1].