A Bíblia é palavra de Deus, palavra de vida. Neste mês de setembro, a Igreja celebra o “Mês da Bíblia”. Com isso, quer recordar-nos o valor perene deste livro, o mais difundido entre todos. Por que o mês de setembro como mês da Bíblia? Porque neste mês dia 30 o calendário litúrgico da Igreja celebra São Jerônimo. Foi ele quem reuniu e traduziu todos os livros da Bíblia para o latim, a língua mais falada de seu tempo (século V). Esta tradução, chamada Vulgata, possibilitou que a Bíblia fosse traduzida para todas as línguas modernas, e daí para todas as línguas existentes.
É inegável o atrativo exercido por este livro. Milhões de pessoas encontram aí a inspiração, a força e o sentido de viver. Neste livro tão divino, mas escrito em palavras humanas, Deus diz tudo o que tem a comunicar. No ápice da comunicação de Deus está Jesus, Ele é o centro da mensagem bíblica.
Assim, os Evangelhos são o coração da mensagem bíblica que está resumida no mandamento do amor: “Amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo” (Mt 22, 37-39). Jesus aprofunda este mandamento nuclear: “Amai-vos uns ao outros, como eu vos amei” (Jo 13, 34). Ele se coloca como medida do amor. Aliás, essa medida é um amor sem limites, porque Ele, “tendo nos amado, amou-nos até o fim” (Jo 13, 1). O centro da revelação bíblica está na afirmação: “Deus é amor” (1Jo 4, 8).
Mas o que é esse amor? As interpretações são tantas, há um lugar, porém, onde o amor é explicado claramente: o Sermão da Montanha (Mt cap. 5 a 7). É a nova lei da nova aliança, que aí é colocada por Jesus, assinalando os limites da perdição e da salvação. O amor infinitamente misericordioso de Deus pelos homens é modelo ao qual a vida dos discípulos se deve conformar: “Sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito” (Mt 5, 48). E Lucas no seu Evangelho, quando fala das bem-aventuranças, diz que esta perfeição é a misericórdia (Lc 6, 36).
O amor infinito de Deus se traduz no sentimento de misericórdia. Ela é o segredo mais íntimo de Deus. E nós sabemos que estamos no amor de Deus quando usamos de misericórdia, até mesmo para com os inimigos: “Amem seus inimigos e rezem pelos que vos perseguem” (Mt 5, 44). Quem se tornou capaz, com a graça de Deus, de amar os inimigos, chegou à compreensão da mensagem bíblica, do contrário tudo ainda é tentativa e busca.
Jesus é o realizador do amor aos inimigos porque deu a vida na cruz para salvar a humanidade, que pelo pecado estava na inimizade com Deus. O amor aos inimigos parece desumano e irracional, porém, é a única atitude capaz de restituir ao homem uma nobreza tal que o faz semelhante a Deus. Diz o apóstolo Paulo: “…o amor é tolerante, benévolo, não é invejoso, não se ostenta, não é orgulhoso, não é inconveniente, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não leva em conta o mal, não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo suporta, tudo crê, tudo espera e tolera. O amor jamais passará” (cf. 1Cor 13, 4-8).
Imagine você como seria este mundo, se por um dia só, todos se perdoassem mutuamente, até mesmo os inimigos? A palavra de Deus existe para que isto aconteça. Para que o mundo seja governado pelo amor, a partir do coração de cada um. Se a Bíblia é a Lei de Deus, nela está escrito que: “Quem ama cumpriu a Lei” (Rm 13,8).
* Dom Pedro Carlos Cipollini para o Jornal Diário do Grande ABC
Fonte: Diocese de Santo André